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O dinheiro e sua não-neutralidade

quinta-feira, 30 de junho de 2016 Postado por Lindiberg Mustang
Muitos pensam que a piedade é fonte de lucro. De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos a esse mundo e dele nada levaremos; por isso, tendo o que comer e com que nos vestirmos, estejamos com isso satisfeito. Os que querem ficar rico caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos desordenados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, se desviaram da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos.

1 Timóteo 6.5-10

Já não existe mais uma noção simples pra definir o que seja o dinheiro. Hoje, o que pode ser entendido por dinheiro, seja como moeda ou como riqueza, guarda em si uma ideia complexa e quase não se pode mais contemplar essa palavra no vocabulário dos economistas. Ainda assim, o dinheiro é um fator significativo ao se tratar de uma vida econômica global, pois está inevitavelmente atrelado a jogos complexos de operações de produção, distribuição e consumo.
Mas nem sempre foi assim. Partindo de um período histórico, a Idade Média, por exemplo, o dinheiro não tinha tanta importância, pois não havia uma causa externa (o mercado, a propaganda) para estimular o interesse humano para o consumo. Assim, o dinheiro exercia um papel irrelevante na vida, no pensamento e nas preocupações dos medievais. Com o advento do capitalismo o “sabiá muda de canto”.
A partir do século XVIII em diante, e sobretudo no XIX, o mundo europeu já se encontrava em desenvolvimento econômico bem acelerado, onde a função do dinheiro tinha mudado radicalmente a vida das pessoas. O sistema capitalista, gradativamente sujeitou toda a vida, individual e coletiva, ao dinheiro e, sucessivamente, o Estado, a Igreja, a Educação, o Direito, a Arte, tudo passou a se submeter ao poder do dinheiro. Não se trata, certamente, de uma questão de corrupção — o que não deixa de ser evidente o fato de que todos se meteu a pensar através do dinheiro.
Apesar de ter uma relação afetiva com o conceito de esquerda, penso que o socialismo não nos apresenta uma alternativa. O socialismo hostiliza o capitalismo apaixonadamente, no entanto, não podemos ignorar uma história embaraçosa de autoritarismo, centralismo e dogmatismo que sempre floresceram na esquerda. O discurso tradicional encabeçado pela esquerda é que esses vícios seriam desvios que não teriam lugar em um “socialismo verdadeiro”. Acredito cada vez menos nisso, e cada vez mais na hipótese de que esses vícios são parte característico da própria esquerda.
Durante décadas o socialismo esmagou o homem na tentativa de domestica-lo para dar outra direção a sua natureza. Dessa forma, o socialismo retomou o que há de pior no capitalismo justificando como teoria, subordinando o homem não ao dinheiro ou aos capitalistas, mas a uma produção esmagadora. Se no capitalismo o fenômeno é o desaparecimento do ser pelo ter, no socialismo trata-se de uma supressão do ser pelo fazer e pelo ter coletivo. No final das contas, não conseguiram eliminar a paixão pelo dinheiro e a submissão do homem ao dinheiro.
Já não pode ser medida minha preocupação de que, na presente ordem, o homem é impelido a correr cada vez com mais intensidade atrás do dinheiro numa busca desenfreada pela felicidade material. Dentro desse cenário, dois grupos de pessoas merecem destaques: o primeiro são aqueles que caem na armadilha de serem possuídos por sua própria riqueza; o segundo são aqueles que não conseguem obter nenhuma fortuna, no entanto, são possuídos pelo próprio desejo de possuir — são escravos que não podem pagar o preço pela sua liberdade. O poder do dinheiro domina solidamente ricos e pobres.
De forma mais intrigante, ao assumir a frequente menção do liberalismo à “mão invisível” do mercado, não é estranho que se entenda isso como uma espécie de “potestade” — uma força que subjuga e se encontra alheia ao próprio homem. Dessa sorte o liberalismo se evidencia com configurações de uma religião convidando todos a viverem debaixo dos poderes de uma “mão invisível” que, particularmente, se manifesta sobre o signo do dinheiro.
Não é difícil de entender e, dado essa natureza, o indivíduo não dirige mais seu olhar ao papel ou moeda, mas apenas ao poder de compra. E aqui entramos num terreno um pouco nebuloso, pois o dinheiro é apreendido por sua categoria simbólica aproximando-se de sua realidade econômica, que se manifesta numa dimensão cada vez mais abstrata; apresentando-se com clareza inquestionável, trazendo tudo àquilo que oferece progresso material. Ora, em outra esfera, não podemos ignorar o rigor matemático adotado pela ótica neopentecostal: dinheiro=bênção. Aqui o dinheiro torna-se um valor espiritual em si. Sendo um valor em si, o dinheiro deixa de ser meio e se torna um fim; deixa de ter uma importância econômica para tornar-se um valor moral e um critério ético.
Nesta ciranda, correr atrás da grana é o mesmo que correr atrás do poder que ela representa de forma acumulada — ou seja, a riqueza. E é natural que aquele que se utiliza de qualquer tipo de poder tem por inclinação associar a este poder seu amor, e consequentemente sua esperança. Jaques Ellul afirma que:
A fome por dinheiro está entre os homens na forma de signo, como a aparência de uma outra fome; o amor pelo dinheiro não é mais que o signo de uma outra exigência. Fome de poder, de superação, de certeza, amor de si mesmo que se quer salvar, de tornar-se sobre-humano, de sobreviver e de eternizar. E qual o melhor meio além da riqueza para se chegar lá? Nesta busca alucinada, precipitada, não é apenas o prazer que o homem procura, mas a eternidade, obscuramente.
Como tal, Paulo adverte que aqueles que empreitam nessa caminhada caem em tentações, em armadilhas e em muitos desejos desordenados e nocivos; isso leva a um mergulho devotado à destruição, pois há uma coisa que o homem não pode se utilizar do dinheiro para comprar: a si mesmo. Hoje pedirão a tua alma, e tudo ao seu redor se desfalece, na incapacidade de te salvar (Lucas 12:20); “De nada vale a riqueza no dia da ira divina” (Provérbios 11:4).
Jesus, que era bem mais atrevido que Paulo, não só nos alerta do perigo de correr atrás do dinheiro como também diz que este assume, diante do homem, a posição de um deus. Para Jesus, riqueza é Mamom: um ser que tem a presunção de ser adorado e servido. Nas considerações de Jesus, o dinheiro não é um objeto neutro e sem autonomia — vale lembrar que este é um episódio excepcional nos evangelhos, pois Jesus não costumava fazer personificações de objetos. E se o dinheiro não é neutro é porque se orienta por si mesmo, segue sua própria lei e se afirma na realidade como sujeito. Essa é uma característica do poder no sentido bíblico, seu paradoxo: o poder não é jamais neutro, ele é orientado e da mesma forma orienta os homens.
Não é de se surpreender que o rabi de Nazaré encare a ambição pelo lucro como um ato de adoração a esse deus, “porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. E continua nos advertindo: “ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6.24). A riqueza se projeta como deus porque preenche no homem, como um devaneio, seus desejos e ambições. É a busca por satisfazer esses anseios que orienta o homem a conferir toda importância ao símbolo; neste momento a riqueza se torna um fim em si. Destarte, é de extrema importância entender o paralelo que Jesus estabelece entre Deus e Mamom. Assim como entre o homem e Deus, a relação entre o homem e Mamom se constitui como uma relação entre um servo e seu mestre. Esta é uma realidade muito específica manifestada por Jesus.
Quando intuímos tudo isso com clareza pode-se perceber como o dinheiro sujeitou toda a vida ao seu domínio. Tudo pode ser comprado ou vendido, inclusive o homem: “Vocês vendem por prata o justo, e por um par de sandálias o pobre” (Amós 2:6). Como Ellul deixa claro, a moeda é somente uns dos meios de ação da potência do dinheiro, “o signo mais visível e concreto desta universalidade da venda”, onde o homem é posto de forma total à mercê dessas relações — a Bíblia é clara sobre o comércio de corpos e almas humanas (Ap 18:13). Essa dissolução interior do homem é enfática na traição de Judas como um ato pago. Porém, Jesus foi somente objeto da potência do dinheiro, mas nunca foi possuído por ela.
Desse modo, diferente do Antigo Testamento onde a riqueza era símbolo da glória de Deus, no Novo Testamento não há um verso sequer que justifique a riqueza — todos os ricos, e de forma mais clara no livro de Lucas, são aferidos com juízo. A riqueza não tem referência na pessoa de Jesus, assim como não tem também tudo que lembrava as ações de Deus no Antigo Testamento como os sacrifícios, o sacerdócio, o templo, etc. Jesus carrega em si toda a síntese do que essas coisas representavam. Em Jesus todas essas coisas foram suprimidas, porque ele é a representação máxima da riqueza de Deus para a humanidade.
O reino de Cristo é singular justamente porque não precisa da glória da riqueza para sustentar sua autoridade. O poder econômico e político são diretamente contrários à postura de Deus refletida em Jesus e seu modo de se dirigir ao mundo. Portanto, numa perspectiva cristã, o dinheiro é entendido apenas como uma coisa que possui um valor instrumental; ou seja, seu valor reside unicamente no fato de ser um meio para satisfazer o valor intrínseco.
O carpinteiro de Nazaré foi o principal patrocinador da ideia de que não precisamos nos preocupar com o dia de amanhã, que Deus provê os pássaros todos os dias e vestem os lírios com uma beleza magnifica, e que o valor que Deus dá a nós é inestimavelmente maior do que de aves e flores (Mt 6.25-34).
O concelho de Jesus era para não ajuntarmos tesouros terrenos, pois, traças e ladrões são atraídos para devorar e roubar impiedosamente tudo isso (Mt 6.19). O Mestre dizia que a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens. Levando isso em conta, chama de insensato o empreendedor bem sucedido que deposita a sua segurança em seus bens acumulados (Lc 12. 15-20).
Para Jesus, assim como para Paulo, é a piedade com contentamento que é uma grande fonte de lucro, pois nada trouxemos a esse mundo e dele nada levaremos; por isso, meu amigo, tendo o que comer e com que nos vestirmos, estejamos com isso satisfeito.
©2016 Lindiberg Mustang

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Mustang

sexta-feira, 31 de outubro de 2014 Postado por Lindiberg Mustang
Numa dessas pictóricas viagens de famílias, Jorge Luis Borges conta que seu pai sempre o surpreendia para que desse uma boa olhada em certas coisas porque estavam fadadas a desaparecer: "Ele queria que eu tivesse como contar aos meus filhos e netos que tinha visto essas coisas quando ainda existiam. Ele me disse para olhar para quartéis, bandeiras, mapas com cores diferentes representando diferentes países, açougues, igrejas, sacerdotes e alfândegas – porque todas essas coisas desapareceriam quando o mundo fosse um e todas as diferenças fossem esquecidas”.
Jorge Guilhermo Borges, pai de Jorge Luis, era anarquista e ambos desiludidos com o socialismo soviético – Cuba vai bem, obrigado. Meu pai, que nunca pisou os pés numa universidade, não teve esta intuição de achar que as coisas desapareceriam tão rápido mas, no entanto, herdei dele essa preguiçosa desconfiança do progresso. Ele, que é dono de uma oficina de bicicletas, se recusa até hoje a fazer qualquer transição de sua profissão: “as pessoas não querem mais bicicletas, querem motos e carros”, dizia minha mãe.
Recordo-me sem muito esforço quando papai aposentou nossa TV preta e branco. Ele chegou em casa de surpresa com uma TV novinha e a cores, porém, manual, igual a antiga. Dizia que “essas coisas de controle remoto só servem para quebrar mais rápido”; disse o mesmo três anos depois quando comprou nossa antena parabólica Century. Meu pai é um cara que anda na mesma bicicleta há quase 30 anos; gosta de futebol e adora rir das piadas da Praça é Nossa; sobretudo, me ensinou sobre a liquidez da modernidade antes mesmo de Bauman ter pensado sobre o assunto. Vivia me dizendo que as coisas antigas sempre duravam mais, eram resistentes, diferente dos objetos “modernos”, que foram projetados para quebrar e ser trocados com mais eficiência.
Ele sabia disso, pois presenciava constantemente em sua profissão. Reclamava que os fabricantes estavam substituindo peças de metais, resistentes, por plástico, quase descartável, sem nenhuma alteração no custo. Na época não entendia, não me interessava; hoje, vejo que essas explicações formaram uma base sólida na minha consciência. Apesar do atraente e encantador discurso moderno, meu pai preferia me dar de presente carrinhos e cavalos de madeira ao invés dos famigerados videogames. Ensinou-me a fazer meu primeiro pião, minha primeira pipa, meu primeiro revolver de madeira.
Não fazíamos refeições em frente à TV, pra isso tínhamos uma mesa enorme – pensando bem, hoje ela não me parece tão grande assim. Gostava de me levar ao seu trabalho e em meio a parafusos e porcas eu me divertia com as ferramentas. Se o parque de diversões estivesse na cidade a brincadeira continuava depois do “trabalho”, em cima do carrossel com tinta descascando, pipoca quentinha, algodão doce colorido e muita gente pobre – típico de cidade pequena – ao som de muito flash back. A diversão era autenticamente estampada na face de todos ao meu redor. Mario Quintana estava certo quando disse que “criança não brinca de brincar”. Elas brincam de verdade; levam isso muito a sério.
Ora, meu pai é esse cara, sóbrio, desconfiado, fala pouco, brinca muito; nunca o vi bêbado ou fumando; não gostava de baralho, mas jogava dominó; é negro, mas minha mãe é branca; sempre me manteve no interior, mas hoje mora na capital; votou no Lula, mas até hoje não sei se é de esquerda ou de direita.
Agraciava-se de tal modo pelo futebol que foi técnico por mais de 10 anos. Numa época em que o politicamente correto não era tão desastroso, a molecada se divertia ao redor do campo o vendo gritar seus jogadores com a célebre frase “toca a bola, macaco!”. Hoje os vampiros do politicamente correto veria em meu pai uma hostilidade à democracia. De fato, ver um maraense, negro, de 1,60m, gritar “toca a bola, macaco”, não soaria tão amigável no dia em que se chama hoje.
Enfim, o time que meu pai foi técnico era o extinto Mustang. Mustang também é o nome de sua oficina de bicicletas. Mustang é como todos chamam meu pai. Menos eu; eu ainda o chamo de papai.

©2014 Lindiberg Mustang
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O mundo e suas fábricas de ilusões

sexta-feira, 29 de agosto de 2014 Postado por Lindiberg Mustang
Nossa época é marcada, como diz Bauman, pela liquidez da realidade. Não vejo definição melhor. O homem contemporâneo, vaidoso de suas tecnologias e conforto, é um “cadáver ambulante”, uma mascara, onde existir se torna autenticamente um fardo pesado. Como ser livre é angustiante, as pessoas preferem deixar-se guiar pelas ocasiões aleatórias que se apresentam; o efêmero, o transitório e o acidental tornam-se precisamente a realidade imediata do homem moderno.
Ora, essa questão não é totalmente perceptível. Vivemos numa era onde mentir virou modinha, e a autoajuda faz isso muito bem; não acredite em algum “segredo”, ou “dez passos” para ser feliz, muito menos nos belos sorrisos das redes sociais. Falar a verdade é optar por caminhar sozinho, e por ser surrado sozinho também – poucas pessoas se sensibilizam quando ouvem a verdade. Por isso tento ser visceral quando escrevo. Decidi levar a filosofia a sério e, por isso, já estou sendo apontado como o “cara que faz as pessoas pensar no que elas não querem”. Expor nossas misérias é manusear uma espada de dois gumes; eu saio dilacerado tanto quanto àquele que me lê – a ironia custa caro, meu amigo.
A modernidade é habitada por prisioneiros da vaidade; somos escravos da técnica, da TV, da propaganda, da religião, das ideologias, do pastor, do padre, da Bíblia, do Estado, do Facebook, etc. O capitalismo, o mercado e o consumismo proveniente destes, nos faz correr sem parar. Mas correr pra onde? Isso ninguém sabe. Vivemos sem um telos (finalidade), os meios é que ditam as regras, "a mensagem é o meio" como diria McLuhan, e a ordem é: corra sem parar, porque se parar você pensa, e quem pensa sofre. Por correr, quero dizer: compre, consuma, seja feliz, deixe-se seduzir pela miragem das promessas do mercado, do dinheiro, do lucro, do progresso, etc. 
Essa é a doce ilusão de que o capitalismo vai transformar o mundo em um lugar justo, em que qualquer um pode enriquecer e ascender a uma escala social através de uma meritocracia. Por outro lado, tentar enxergar uma alternativa no comunismo é se inebriar na alucinação de que o Estado – esse ser impessoal, o qual Nietzsche chamava de “o mais frio dos monstros” – tem a capacidade de resolver nossos problemas. O Estado tem o domínio do seu corpo; o capitalismo, da sua alma.
Do jeito que as coisas andam só posso concluir que estamos caminhando para uma distopia, onde o Admirável mundo novo, de Huxley, seria semelhante a um conto de fadas. Uma distopia onde a revolta é inexistente; onde a revolução será apenas mais uma invenção de um produto que você vai desejar comprar; onde a esperança não passará de um mero conceito abstrato. Mas já não é mais tão interessante dizer que a vida não tem sentido e que o mundo não é um lugar seguro; isso não é uma novidade e já não abala mais ninguém. As pessoas descobrem isso até no supermercado quando vão fazer suas compras – aliás, as pessoas vão fazer compras justamente para suprir a falta de sentido.
Na verdade, o que me seduz é a possibilidade de ter esperança; a possibilidade de construir uma verdadeira comunicação, um vínculo graciosamente genuíno. Isso, hoje, é o verdadeiro milagre: estabelecer a graça como a base dos relacionamentos diante de um mundo onde o lucro é a medida de todas as coisas.
Apreender o mundo dessa forma, sendo guiado pela vibração da graça, não nos garante uma vida afortunada, no entanto, nos certifica de uma vida autêntica, onde o indivíduo começa por dar um mergulho em si mesmo, se construindo no âmbito da consciência, e não se diluindo na massa, no geral, na religião, nos partidos políticos, na militância ideológica, onde o excesso de comunicação atrapalha a verdadeira comunicação, pois transforma todos em bandos, em massa de manobra, em desordem existencial, culminando em uma abstração do sistema, o que para Kierkegaard seria “as orgias espirituais da filosofia contemporânea”.
Jesus, o Verbo, nos convida a superar essa falta de caráter de nossa época; nos atrai a caminhar na liberdade, a optar pelo que é eterno, pelo absurdo da fé, sustentando um rompimento com a “justiça” universal fechada numa moral onde o que prevalece é a culpa. Enfim, os discípulos de Jesus nos mostram que a vocação essencial do cristão não é sair vomitando doutrinas e regras a torto e a direito, mas denunciar todas as fábricas de ilusões, que geram desumanização – principalmente aquelas que se autolegitimam sagradas ou divinas. 
O reino de Deus é marcado por gente que abre mão dos seus direitos em favor dos que nada têm; é marcado pela dilatação da Esperança, que transcende a mera objetividade e conceitos abstratos sem sentido. O reino de Deus é de outra ordem e, com certeza se torna escândalo neste mundo. Não é por acaso que nosso mundo não é muito acolhedor com aqueles que amam e ousam questioná-lo – Francisco de Assis, Thoreau, Gandhi e Luther King que o diga.

©2014 Lindiberg Mustang

Tecnologia é inútil para nossa sobrevivência

domingo, 2 de setembro de 2012 Postado por Lindiberg Mustang


É impressionante como conseguimos estabelecer conexões com absolutamente tudo ao nosso redor – e estou convencido de que este é a principal característica que nos diferencia dos animais. A tecnologia tem se mostrado um grande conector de relações, talvez o maior de todos eles – algo que eu tenho me relutado bastante para aceitar. A conexão é algo essencial para nós, o problema é que estamos montando uma relação patológica com o conector, ou seja, a tecnologia. Suas manifestações são várias, e necessidades – das mais banais as mais importantes – são criadas diariamente.  A verdade é que boa parte do que entendemos por tecnologia é inútil para nossa sobrevivência. Ela sempre foi, e continuará sendo, apenas um instrumento para alcançar nossos objetivos. Não o objetivo em si.
Em 2011 um grupo de empresários e profissionais de ponta aceitou passar uma semana desprovido de seus gadgets – celulares, notebooks, tablets, etc., – em um lugar remoto do estado americano de Utah. Os pesquisadores perceberam que estamos criando uma relação patológica com os aparelhos que nos cercam, não tão grave, mas semelhante às pessoas dependentes de álcool ou drogas. Estamos criando em nosso subconsciente a ideia de que nossos relacionamentos – amizades, contatos de trabalho, romances – dependem deles. A maioria das pessoas está começando a acreditar que não conseguimos mais viver sem eles. Há de muito tolo esse juízo, levando em conta que para nossa sobrevivência, a tecnologia é inútil e, em alguns casos, até mesmo prejudicial.
A internet, talvez hoje, seja o melhor conector de pessoas que conhecemos. E não é difícil chegar à conclusão de que a maiorias das relações feitas pela rede são superficiais, rasos e alicerçados na banalidade. Pessoas que preferem passar horas em frente de seus computadores navegando em redes sociais, postando frases para centenas de “amigos”, a sair com essas pessoas literalmente, prova que o uso abusivo da tecnologia está mudando negativamente nossos relacionamentos. E por esse motivo percebemos que a tecnologia nos isola, nos recolhe da companhia do outro.
Esse tipo de assunto parece meio clichê, mas, a verdade é que essa é a preocupação de muita gente séria. Passamos tanto tempo conectados numa constante expectativa de recebermos um simples texto como “oi”, “como você está?”, “bom dia”. Nosso apego por esses luxos a cada dia que passa está ficando maior e as frustrações decorrentes desse hábito estão começando a aparecer.
Ainda na década de 1970, Jacques Ellul, teólogo e filósofo francês (†1994), já demonstrava os efeitos catastróficos do uso desordenado da tecnologia, corroborando que nenhum tecnólogo é livre, e que há um conflito entre liberdade e tecnologia. Ellul dizia que aos poucos estamos sendo escravizados pela tecnologia; “estamos rodeados por objetos que são atrativos, que são eficazes, etc. Mas que não fazem sentido”.
Não acredito que é esse futuro que desejamos. Temos que encontrar uma solução inteligente para dosar nossas conectividades, e o modo de como usamos a tecnologia. Ora, quando desligamos nossos computadores e celulares, automaticamente começamos a nos sentir isolados, e isso não é porque estamos angustiados de fato. A tecnologia nos escraviza em certo sentido – e aqui não quero tirar o mérito dos benefícios que ela traz –, e nesse caso temos que correr para o lado oposto.
A força da tecnologia é selvagem e rebelde, e se tornou algo profanamente sagrado. O relacionamento com as pessoas era uma finalidade, mas hoje, essa distinção não é mais feita. É relutantemente inevitável que o melhor exemplo deixado para conexões saudável se encontra com o Rabi de Nazaré, que se conectava com todos, mas nenhum conector era mais importante do que a conexão, o que importava mesmo pra ele era as pessoas.
Jesus que tinha a própria natureza como ferramenta de seu trabalho e jamais se deixou deter por algo que não fosse simples e singelo. Compartilhava tudo com todos, tendo como conector as coisas mais imprevisíveis: o pão, o peixe, as lágrimas o vinho, a praia, o suor, o barco, um poço, uma tumba, a vida, a morte, os sorrisos, e até mesmo a Cruz. Sim a Cruz. Jesus não se relacionou com ela, mas através dela, o Filho do Homem se reconectou de vez com o mundo, e com cada partícula que nele se encontra. Ele nos deu exemplo do que é uma verdadeira rede social, na praia com seus discípulos; no monte, em meio a um sermão; no deserto, alimentando uma multidão; na beira de um poço, na companhia de gente de baixa moral; na última ceia, cantando, comendo e bebendo, celebrando o que de fato é comunhão.
©2012 Lindiberg de Oliveira

Uma sociedade líquida

domingo, 20 de maio de 2012 Postado por Lindiberg Mustang
O homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar.
Charles Chaplin

É degradante o fato de vivermos em uma sociedade em que somos obrigados a correr de um lado para outro. Temos que correr simplesmente por que temos que correr. E o pior de tudo é que quando paramos para pensar, descobrimos que não estamos correndo para lugar nenhum. Zygmunt Bauman ilustra bem o que quero dizer quando afirma que “em nossa época, vivemos como se estivéssemos correndo sobre uma fina casca de gelo, se você parar ela racha, e quando ela rachar você se afoga”. É isso mesmo, caro leitor, além de você viver em um mundo sem referências claras de como resolver as coisas, você também descobre que não tem tempo. Essa é uma característica fundamental da nossa sociedade.
E esse quadro não para por a; no dia em que se chama hoje – o qual somos condicionados a correr sempre, a produzir em todo momento –, Bauman desenvolve aquela metáfora clássica de que no capitalismo “tudo que é sólido se desmancha no ar”. Para Bauman, não é ar, mas, sim, líquido. As coisas não tem forma, e logo, elas se espalham. Tente apreender em sua mão o que você entende por família, ética, felicidade e você verá inevitavelmente todos esses conceitos e valores se desmanchando com muita facilidade, porque a relação com sua mulher, ou seu marido, ou seus filhos, ou seja lá quem for, é uma relação líquida, a qualquer momento ela pode acabar. É o infortúnio da vida, amigo, e não há nenhuma garantia que a pessoa que está do seu lado permanecerá com você. E isso justamente por que essa pessoa é alimentada pelo mesmo motor que você, ou seja: eu mereço ser feliz naquilo que faço.
Começamos a correr sem ter marcado um ponto de chegada, condicionados por uma sociedade líquida, e movidos por um motor o qual o combustível é sempre a insatisfação. Quando a pessoa que estiver do seu lado não preencher os requisitos de felicidade da qual você se julga ter direito, você troca. Simples assim. Nada mais é sólido; os valores, os afetos, os conceitos, tudo se desmancha variavelmente da forma mais deformada possível. Trocamos de relacionamentos sem nenhum motivo válido, tendo como impulso somente nosso puro, genuíno e mais honesto egoísmo.
Diante do que foi dito acima, parece que não temos saída. As únicas vias visíveis parecem ser aquelas que apontam para certo exclusivismo. Mas, nem tudo está perdido; ainda existe uma noticia bastante original, e pouquíssimas pessoas teve a ousadia de divulga-la e vivê-la. Essa notícia nos liberta e ao mesmo tempo nos angustia quando nos orienta que mesmo que tenhamos sido traídos ou abandonados, mesmo que a mágoa tenha tomado de conta e o desgosto encerre qualquer possibilidade de ser feliz, o convite do Evangelho é: continue amando. Essa é a única – eu disse a única – forma de você passar por esse mundo não apenas existindo, mas vivendo. O fascinante dinamarquês Soren Kierkegaard (1855) nos brinda com o seguinte concelho: “Ame profunda e apaixonadamente. Você pode sair ferido, mas essa é a única maneira de viver a vida completamente”.
Nossas instituições, quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções, mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades auto-evidentes. O amor é o único elemento que pode dar forma a essa sociedade líquida.
                       ©2012 Lindiberg Mustang
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Pagando pela vida com a vida

terça-feira, 6 de março de 2012 Postado por Lindiberg Mustang
A verdadeira utopia hoje é a de que seremos capazes de resolver nossos problemas com transformações modestas no sistema existente. A única opção realista é fazer o que parece impossível nesse sistema.

Lembramos da definição surpreendentemente relevante de Paulo sobre uma luta emancipatória: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes /Kosmokratoras/ das trevas deste século, contra as hostes espirituais”. Ou, traduzindo em nossa linguagem de hoje: “nossa luta não é contra indivíduos corruptos concretos, mas contra todos aqueles no poder em geral, contra sua autoridade, contra a ordem global e a mistificação ideológica que a sustenta”. Se engajar nessa luta significa endossar a fórmula de Badiou, melhor assumir o risco e se engajar na fidelidade ao vento-verdade, mesmo que essa verdade termine numa catástrofe, do que vegetar na sobrevivência hedonista-utilitarista sem-eventos daquilo que Nitzsche chamou de último homem. O que devemos rejeitar é a ideologia liberal-vitimista que reduz a política a evitar o pior, a renunciar de todos os projetos positivos e perseguir a opção menos ruim – ou, como notou amargamente Arthur Feldmann, o escritor judeu vienense, o preço que usualmente pagamos para sobreviver é a própria vida.

A face de Deus*

segunda-feira, 19 de setembro de 2011 Postado por Lindiberg Mustang
Foi como se um flash de luz me cegasse. Quando abri os olhos o que vi foi um ambiente totalmente alheio e jamais visto por mim em tempos pretéritos. De imediato percebi que meus pés estavam descalços, e a areia o qual eu pisava flamejava como se fosse ouro. A vegetação era alegre, e as cores que irradiava de tudo aquilo estavam embriagadas por vida.

As fragrâncias emanadas pelo ambiente eram as mais diversas possíveis. Os pássaros, a água, o ar, tudo isso era peculiar. O cenário era de uma praia, talvez uma ilha, com uma beleza jamais penetrada nos meus olhos, fazendo meus sentidos perceber tudo isso como se cada unidade fosse um universo à parte, mas ao mesmo tempo cada universo eram às minhas faculdades como uma pequena partícula integrada num todo. O lugar parecia ser obscenamente sagrado, fazendo-me colocar-se como o único ser impuro ali.

Eu não sabia como tinha chegado ali. Tudo parecia real demais para um sonho, e também me sentia vivo demais para ter dado o último suspiro. Alias, vivo era a única definição que poderia dar a alguém caso me perguntasse como você está. Sentia minha carne preguiçosamente revigorante, fazendo-me entender que isso não vinha de mim, e sim de tudo aquilo que o ambiente emanava. “É o paraíso”, pensei. E isso me deixou bem confortável, pois, se aqui é o paraíso, então há salvação para os animais. Ora, quanto mais eu andava, mais eu me deparava com bichos de espécies nunca vista por mim antes. Insetos que me davam terror, agora eu os admirava com apaixonante desânimo. E foi então que pude sentir que não só os animais e as plantas, mas exatamente tudo naquele lugar, cada partícula, estava querendo expressar e transmitir algo. “Não é o paraíso”, pensei novamente, “é Deus, estou dentro do próprio Deus”. Era como se eu soubesse a particularidade de cada grão de areia que tocava em meus pés, de cada sopro que atingia meu rosto, de cada átomo que fazia parte do meu corpo.

Não sabia o que pensar, tudo era indefinível. Todo meu conhecimento foi fragilmente quebrado pelo fabuloso reino das formigas com asas, que me instigavam a refletir com suas lições. Prostrei-me com o rosto em terra e confiantemente, na certeza de estar sendo ouvido, disse em pensamento aquilo que só Deus poderia escutar. De repente toda aquela paisagem translúcida foi substituída por uma megalópole manipulada por suas tecnologias. As arvores deu lugar a prédios e arranha-céus, as aves foram substituídas por aeronaves. O mar e todo seu esplendor se transformaram em esgotos espalhados pela cidade. Enfim, nem se toda aquela beleza fosse virada pelo lado do avesso se decomporia em algo tão sombrio.

Ainda prostrado, não mais com o rosto em terra – ou areia –, mas sim em um asfalto frio, de uma cidade fria, onde moravam pessoas frias. Ao me levantar surpreendi-me, pois o quadro o qual eu estava agora era pintado com tintas diferentes. Eu me encontrava numa calçada, suja e deserta. O céu estava cinza, nublado, alias, tudo estava cinza.

Ao me virar me deparei com um velho decrepito, sujo e seminu, jogado sob a imundícia misturada com caixas de papelão em plena avenida da cidade. Nunca tinha visto alguém naquelas condições pessoalmente; era nitidamente visível que seu corpo era insanamente maltratado pela fome, seu sorriso desdentado era totalmente deselegante e sua pele fétida espantava qualquer pessoa que chegasse perto dele. Atraído pelo resplendor daquele velho, resolvi me despir e cobrir a sua nudez.

Imóvel, sem conseguir dar um passo sequer, gastei meus últimos minutos desfrutando o bem estar de seu cativeiro, e então acordei do sonho sem que eu pudesse estender a mão em sua direção. Assustado, pensei comigo mesmo: “Não foi um sonho. Eu vi, realmente vi a face do Todo Poderoso”.

©2011 Lindiberg de Oliveira
*Ao Kallil, que vive me dizendo que ir direto ao assunto é sempre mais fácil.

Consequências de um capitalismo torturante

sábado, 14 de maio de 2011 Postado por Lindiberg Mustang

Já tem algum tempo que venho demostrando determinantemente minha aversão a algumas dimensões do capitalismo desumanizantes, que escraviza o corpo e que projeta apenas o que é aparente na consciência. Talvez isso faça de mim um subversivo — e sempre uso essas palavras no bom sentido; pode ser, mas nem sempre o bastante para andar nos caminhos que aponto. Covarde, talvez você tenha pensado. Talvez! A questão é que diante de obsessivas observações tenho muito a dizer, e minha vaidade não me deixa ficar calado.
O Evangelho tem-me abrido os olhos para um tipo de relação totalmente oposta a uma concepção econômica liberal. Ou seja, a proposta do Evangelho não é só diferente, mas também é antagônica à sugestão do capitalismo. O primeiro prega que o desprendimento de bens materiais além de ser uma virtude leva a um estado de paz que transcende o natural.
Felizes são vocês, pobres, porque o reino de Deus pertence a vocês. Felizes são vocês, que agora passam fome, porque serão satisfeitos. (Lucas 6.20-21)
De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muito sofrimento. (1 Timóteo 6.6-10)
Jesus de Nazaré foi o principal financiador desse conceito, articulando poética e subversivamente para não acumularmos tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem (Mt 6.19); para não nos preocuparmos com a vida, quanto ao que comer ou beber (Mt 6.25); que abençoado não é quem tem é quem é (Mt 5.3-9). Com isso, Jesus chama de tolo o empreendedor arrojado que vive para amontoar e nada desfruta daquilo que tem.
O capitalismo por outro lado, vende continuamente aos pobres a possibilidade de se tornarem ricos. Mas, se enganam aqueles que acham que o capitalismo se aplica somente ao mercado. Hoje ele é um sistema universal e predominante, regido por aqueles que se instituíram os cabeças, e na verdade só eles se favorecem desfrutando de mais de 80% dos benefícios do nosso planeta. São aproximadamente 7 bilhões de pessoas no nosso planeta, e apenas um quinto disso tudo come do bom e do melhor. Os outros são privados desses privilégios e o sistema neo-liberal não cessa de dizer: vocês não o culpados, pois não se esforçaram o bastante.
O sistema capitalista conseguiu fabricar um novo tipo de homem e mulher, determinando assim seu estilo de vida e relacionamento, não só com o próximo, mas com tudo ao seu redor. Somos manipulados pelo mercado — que criam demanda todos os dias de novas necessidades —, pela mídia e pelo governo, o qual elabora métodos próprios de construção coletiva da subjetividade humana; no mercado somos tratados como seres impessoais, como máquinas, notados por aquilo que produzimos e não pelo que somos, nos coagindo a produzir obsessivamente mais do que ganhamos, fazendo-nos entrar num círculo de estagnação indigesta.
A mídia (em todos os sentidos como jornal, rádio, televisão, cinema, outdoor, página impressa, propaganda, mala-direta, balão inflável, anúncio em site da Internet, etc.) também serve ao capital com suas façanhas publicitárias, vendendo mentiras que incitam todos a serem consumidores alienados e compulsivos. Somos manejados diariamente a comprar aquilo que não queremos e também não precisamos para alimentar um espírito de superioridade sobre aqueles que não têm acesso ao mesmo tipo de consumo.
A publicidade infantil é a mais cruel de todas, pois pega pesado com seres que não tem o senso moral latente totalmente definido. 83% das crianças brasileiras é influenciada pela publicidade, sendo que 72% por produtos com personagens famosos, 38% por brindes e jogos e 35% por embalagens coloridas e atrativas. Isso faz com que 80% das decisões de compra de uma família brasileira estão na mão das crianças. Foi-nos inserido a ilusão de que só somos felizes e que a vida não tem sentido se não vier acompanhado de insígnias de posses, status, consumos de bens, etc., ou seja, na nossa sociedade é aquele que tem.
E os políticos? A cada dia mais hipócritas. Com vozes que não passam de homílias mentirosas disfarçadamente honradas. Com promessas que jamais poderão cumprir enquanto vivermos alicerçados em um sistema que se resume em uma máquina de moer gente (pobre). Vivemos uma pseudodemocracia, onde o povo só tem voz na hora de votar. O crescimento dos evangélicos vem aumentando na sociedade e se estabelecendo nas instituições políticas e, contraditoriamente, a corrupção também se alarga nesses recintos.
A mensagem subversiva de Jesus me instiga massivamente a andar no caminho oposto desse negócio todo. Quero viver sem me vender, caminhar sem ser escravo da máquina porque como disse alhures, eu não sou prisioneiro dos deuses, eu não sou prisioneiro de ninguém; eu sou escravo de Jesus Cristo, e paradoxalmente ser escravo de Jesus Cristo, é andar na liberdade.

©2011 Lindiberg de Oliveira

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