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A consolação ilusória das multidões

quarta-feira, 23 de novembro de 2016 Postado por Lindiberg Mustang
A cobiça, que é sem dúvida o desejo mais entranhado no homem, e a vontade de poder que dela decorre, são características genuinamente individuais que habita desde tempos pretérito o coração de cada um. Isso se confirma com clareza nas palavras do apóstolo, que diz: “cada um é tentado pela sua própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido” (Tiago 1:14). Dessa forma, esse mal só pode ser discernido individualmente a partir de um confronto aprofundado com o próprio ser, que reconhece na experiência interior a sedução e a cupidez que leva à desordem da alma.
Se por um lado a cobiça tem sua origem no indivíduo, por outro, é na coletividade que ela se legitima — é o corpo social que a exalta. Observamos na massa a totalidade dos indivíduos que produz um acréscimo de poder, no entanto, um corpo social sobrepuja esta expectativa dando um caráter desmedido em relação ao sujeito, e um sentido último, que constrange todo indivíduo e que faz com que somente o corpo social pareça autêntico.
É da coletividade que brota o espírito de poder mais alucinado, onde as consciências se diluem e, por isso mesmo, assumem um ar de verdade absoluta. Assim, a cobiça pessoal de cada indivíduo busca se justificar e se satisfazer numa via aberta para esse corpo social.
Jesus discerne com maestria essa dimensão da coletividade: “Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor” (Mateus 9:36). Nota-se que Jesus não trata com as multidões. Diante delas ele só exala sua compaixão e serenidade. O homem na multidão, envolvido nas massas, é inalcançável na medida em que abraça essa multidão na busca por uma consolação ilusória; a partir daí cria-se um mundo peculiar de sentimentos e tudo que se faz é reforçar esses sentimentos.
O indivíduo que se submete a uma massificação internaliza constantemente a ilusão de que continua indivíduo, mas não tem condições de afirmar a sua prerrogativa individual. Assim, a multidão é incapaz de expressar até mesmo uma visão de mundo — no máximo expressam uma intersolidariedade grupal. Esse delírio é nossa condição diante da proliferação demográfica e no inferno das cidades aplacado pelos discursos sobre democracia.
Dizia Chaplin que a multidão é um monstro sem cabeça, e Mateus 9:36 narra que Jesus encontra uma multidão aflita e exausta, sem nenhuma razão em si, nenhuma verdade, nenhuma mensagem, à mercê do primeiro louco, do mau pastor, do líder político, de um mito… Além da miséria contingencial que envolve as massas, Jesus se atenta justamente para esse potencial de horror quando as más autoridades tomam o controle. O povo ensandecido se inclina facilmente a lamber botas de autoridades, a erguer ídolos pra si, a prestar culto a salvadores da pátria. Freud dizia que a assustadora irracionalidade dos seres humanos emerge de grandes grupos e que as profundas forças libidinais de desejo (forças do amor) são entregues ao lider, enquanto os instintos agressivos (ódio) são dirigidos aos que estão fora do grupo (claro, há controvérsias sobre o conteúdo da explicação freudiana, mas na prática é justamente isso que acontece).
O Filho do homem não é mestre de multidões, não se torna líder delas; não se mete a dirigir o que é ingovernável (e esse é o elemento paradoxal que torna a massa mais facilmente domesticável), pois sabe que ao se colocar na liderança de uma multidão, efetivamente, faria com que cada homem se despojasse mais ainda de sua individualidade própria. Como afirmou Kierkegaard: “A multidão é a mentira. Cristo foi crucificado porque não queria se envolver com a multidão (ainda que ele se dirigisse a todos), mas queria ser o que ele era: a verdade que se relaciona com o indivíduo singular”. Caso contrário, a multidão seria reafirmada contundentemente em seu “estado de multidão”, inexistente e destituída de significado.
A máxima nietzschiana “nenhum pastor, um só rebanho”, é o último estágio do homem desolado. Mário Ferreira dos Santos comenta essa frase dizendo que nesse caso o líder é apenas a projeção da própria multidão: “O líder é líder porque segue à frente da multidão e a multidão segue-o porquê ele se coloca à sua frente. O líder é um produto da massa que se torna um rebanho sem pastor, porque não é conduzida. Na verdade, ela conduz o líder, que teme não ter acompanhantes. Esse é o estágio de que fala Nietzsche”.
O mecanismo básico das mentalidades das massas é irracional; a multidão não é guiada pelas mentes que a compõe, mas pelos seus instintos. Há inúmeras causas envolvidas nas decisões humanas, não somente entre indivíduos, mas principalmente entre os grupos. Qualquer informação bem colocada, principalmente quando associadas a alguma imagem estonteante, tocará as emoções irracionais das pessoas, dirigindo todo o comportamento das multidões — ao ponto de fazê-las apoiar uma guerra ou desejar uma coca-cola; tudo isso através de coisas irrelevantes que podem se tornar fortes símbolos emocionais. Ainda no século 19, Kierkegaard já entendia que “não há arte alguma em ganhar uma multidão; tudo o que é preciso é a não-verdade e um pouco de conhecimento das paixões humanas”. A publicidade, claro, foi um dos setores do mercado que melhor entendeu isso quando faz essa conexão emocional entre um produto ou serviço.
A mensagem do mestre de Nazaré desconstrói as bases de todo corpo social muito bem engajado. Por isso a boa nova de Cristo parece terrível para nós que vivemos nesta sociedade de massa, repetindo as mesmas coisas que o grupo está dizendo, arrolados nos mesmos sentimentos e facilmente mobilizados para determinada organização política, social, religiosa, etc. Neste sentido, as massas se tornaram a verdade, o poder e a honra, um tipo de deus — em suma, a ascensão do poder do “numérico” é a principal fonte do mal no mundo moderno, que se arrasta até nossos dias, desde Sócrates e Jesus, que foram vítimas do “numérico”, da “multidão”.
Presenciamos este fenômeno trágico onde cada conglomerado se reduz a um número, e se satisfaz em ser assim. O Evangelho é precisamente a Luz onde cada um pode encontrar sentido fora da massa, onde cada indivíduo pode discernir o caos dessa sociedade enlouquecida. Portanto, o famoso grito de protesto socialista que diz "trabalhadores do mundo, uni-vos!", não passa de uma armadilha dantesca para a consciência individual. Essa “união” não passa de uma adesão dissimulada a um espírito de manada, atraente para a alma covarde, no entanto, indigestível para aquele que sabe que lhe custará a supressão do fator Indivíduo.
Por isso, senhoras e senhores, os discípulos de Jesus são orientados não a enquadrar a multidão, mas dispersa-las, promovendo a vertigem da liberdade nas consciências mais corajosas.
Quem ousa realmente se levantar como uma testemunha da verdade não se abstém de atacar a multidão, pois é um componente indispensável para um profeta, um apóstolo, um mártir. Envolve-se, se possível, com todos, mas sempre individualmente, falando a cada pessoa, uma por vez, nas ruas, nos becos, como insiste Kierkegaard, a fim de dispersá-la.


©2016 Lindiberg Mustang

O que é arte?

sexta-feira, 7 de outubro de 2016 Postado por Lindiberg Mustang
O que faz de algo uma obra prima? O que é arte? Bem, até o século 19 as respostas poderiam ser bem convencionais, todas aprovadas por um fator essencial da experiência humana: o êxtase, o devaneio, o arrebatamento íntimo, o sentimento que elevava o ser ao Eterno; era a iniciativa pela qual o indivíduo, amparado pelas mãos dos deuses, se anunciava ao mundo.
Foi no século passado que toda proclamação de valor estético caiu no vazio do relativismo. Depois de expor um urinol como obra de arte, intitulado como A Fonte, Marcel Duchamp espalhou um resíduo de ceticismo e muita gente começou a se perguntar: “O que de fato é arte?”. Desde então as respostas para essa pergunta começou a transitar entre o sublime e o vulgar, entre o admirável e o trivial. Em um mundo em que a afluência artística que tinha em si o brilho da beleza, a arte chega ao século 20 ofuscada pela piada de Duchamp.
Particularmente penso em arte como uma unidade composta por forma e conteúdo. Explico: como pensava Aristóteles, forma não se reduz a uma mera figura externa das coisas, mas é o princípio da sua própria funcionalidade. Forma seria então a estética de uma obra, são os traços de um desenho ou o contorno de uma pintura; é a estrutura da composição de uma música ou todo arcabouço de um filme; é a métrica de uma poesia ou o busto de uma escultura. O conteúdo, por outro lado, é o que dá o aspecto dialogal de cada obra; são os meios estéticos de expressão que se organiza em função de seu efeito artístico. O conteúdo é o que o artista quer passar, é a sua mensagem; é todo o aspecto dramático da obra em que o artista arrisca a vida para dar existência a sua criação. 

Para Nietzsche, de tudo quanto se escreve só vale a pena se deter naquilo que é escrito com o próprio sangue. Eu diria que na arte não é diferente; o sangue é símbolo dionisíaco, significa vontade; símbolo também da vida. Escrever com essa vida significa a própria elevação do espírito, que possibilita estar à frente de todos, de antecipar situações e tendências. Isto acontece quando o artista transforma a situação em que vive na situação de sua própria época, tornando a obra não somente um comentário de seu tempo, mas também um comentário sobre todas as épocas, universalizando o que há de comum na história humana.
Ora, nem sempre é possível contemplar de imediato a forma e o conteúdo em perfeita harmonia numa obra. Às vezes o conteúdo se apresenta fixada numa forma embaraçosa, onde as imperfeições estéticas são as condições humanas da obra falar — prefigurando a própria beleza da obra.
Dessa forma, o que impressiona nas músicas de Bob Dylan não são seus simples acordes acompanhado de uma fonografia indefinida; o que nos surpreende nos filmes de Stanley Kubrick não é seu perfeccionismo já há muito ultrapassado pela tecnologia atual; o que assombra nos romances de Dostoievski não é o niilismo que parece engolir todo mundo. Não. Nada disso fica em pé diante da profunda experiência que emana do conteúdo dos trabalhos desses gênios, atulhado de angústia, solidão, orgulho, loucura, morte.
É assim que a arte cumpre seu papel funcional no mundo, inspirando, consolando, elevando o espírito ou comunicando o desprezo, a decadência e a humilhação. Tudo isso através da caneta, dos pinceis, da argila, da tinta, das imagens, dos sons, dos acordes, do movimento, da dança, etc.
Entretanto, só se pode perceber a função da arte quando se entende o conflito entre forma e conteúdo; e isso só é possível na medida em que o conteúdo sobrepõe à forma. É nesse momento que a redenção brada mais alto que as imperfeições estéticas, revelando que a supremacia do Bem prevalece sobre a desordem que arrasta para baixo toda dignidade humana. Assim, a arte oferece sempre uma arriscada travessia que vai das determinações mais baixas e aponta para uma dimensão sublime da realidade. Essa travessia não é possível para pessoas que mal sabem suas próprias opiniões sobre a natureza humana, ou seu lugar dentro da História; não é possível nem mesmo para uma elite que é incapaz de encontrar o sublime na fragilidade do grotesco.
Foi Paulo Brabo que me fez entender que o sublime estampado no grotesco também nos lembra de que somos gente, com nossas falhas e deformidades, revelando a crueza de nossas funções biológicas como a fome, a cede, o suor, o arroto, o peido — elementos estes que para a superficialidade do orgulho humano apenas nos distrai da ideia de eternidade. Ledo engano.
Não se trata de elevar essas necessidades primárias do homem, mas de entender que o sublime também pode ser encontrado no grotesco justamente porque este evoca o ciclo da vida e morte das coisas. E isso o homem urbano sofisticado não acolhe porque trata de uma realidade que arranca o sujeito da ideia de transcendência jogando-o na esfera do temporal, do relativo, do constrangedor, do indecoroso, do hic et nunc. Aqui o sublime se apresenta quando a beleza faz dessas coisas uma abertura para se vislumbrar algo mais elevado, que vai além do temporal. É a travessia que seguimos juntos com o artista da terra ao céu, do inferno ao paraíso que começa justamente na nossa decadência fisiológica.
Como Paulo Brabo deixa claro, essa é a ideia embutida na literatura de cordel: “O cordel é anguloso, despretensioso, barato, escatológico, relaxado, inferior, almeja o popular – sua mensagem é: posso estar na mão de todos”. Seu conteúdo é a de explicitar uma genuína participação que vai além dos anseios padronizados pela cultura. Ora, a beleza também é graça divina acessível a todos os homens e pensar o contrário é negligenciar sua natureza subversiva.
Diferente de cada criação da Apple, seja um dispositivo ou um anúncio, que fala de um ideal sofisticado, elegante, superior, distinto e sem arestas — com sua mensagem: posso estar na mão de poucos —, o cordel, grotesco, carregado de uma estética defeituosa, replicando tragédia, outrora comédia, representa igualmente a necessidade humana de consolo e harmonia; aquela ânsia da alma pela ordem que se alimenta precisamente do valor último que essas obras indicam. Nesse caso, o cordel indica, ou nas palavras de Paulo Brabo: “ilustra um modo subversivo de ler o mundo, um modo que fala de espaços abertos, temporários e sociais — festas populares, feiras e circos mais do que casas e shoppings”. Ou seja, exala um conteúdo que evidencia esse valor último que evoca o sentimento de participação numa comunidade.
É singular o fato da beleza repousar justamente naquilo que se universaliza no homem. Não por acaso a graça, “que se manifestou a todos os homens” (Tt 2.11), é atrelado ao conceito de beleza.
Quanto a verdadeira obra de arte, ela não só é uma expressão da vida moral, mas também o resultado de uma luta interior em que o objeto artístico se torna algo muito além da intenção do artista. É aquela situação em que o artista produz algo maior que a si mesmo, transcendendo suas sensações básicas e imediatas — uma missão que até os anônimos cordeis também cumprem. Afinal de contas, a expressão artística mais elevada não é aquela onde a perfeição estética fala mais alto, e sim aquela em que o Bem fala mais alto. E quando o Bem fala mais alto o horror desaparece sob o luz da beleza.
©2016 Lindiberg Mustang

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Um baile de sombras

domingo, 7 de agosto de 2016 Postado por Lindiberg Mustang
Quando imitamos alguém isso revela um profundo desejo de querer ser essa pessoa. Ou seja, de viver, entender, ou internalizar as mesmas experiências que moldaram tal personalidade. De algum modo todos nós passamos por isso, quando lemos uma biografia, ou quando ouvimos algum músico, ou até mesmo quando assistimos a um filme. A imitação como um amparo instrumental é essencial para o aprendizado seja do que for, e de forma mais densa, nos leva à maturidade; é o que se passa quando encaramos pensamentos de gente como Nietzsche, Tolstoi ou um Chesterton da vida.
O problema é que a falta de caráter de nossa época tem produzido quilos e quilos de sujeitos que se contentam apenas com a imitação enquanto tal — elas não querem participar do mesmo drama, não querem ser, elas só querem parecer —, não acreditando na realidade mas apenas na encenação. Isso me lembra Machado de Assis em seu conto A teoria do medalhão, onde um pai aconselha seu filho dizendo que o que é realmente valioso é a aparência. Assim, o autor demonstra o caráter artificial dos círculos da sociedade em que ele mesmo viveu.
Hermann von Keyserling, filósofo alemão que passou parte de sua vida viajando pelo mundo, ao chegar no Brasil constata em seu diário esse mesmo fenômeno entre a elite brasileira. Ele concluiu que os brasileiros se satisfaziam tranquilamente se colocando no mundo apenas como simulacros: uma cópia imperfeita do que é real.
Isto nos explica muita coisa, porque é justamente esse comportamento que observamos em todas as dimensões de nossa cultura. Praticamente importamos todo tipo de ideias dos gringos: as músicas, programas de TV, enredos de novelas, gírias, moda, modinhas de rede social, etc. Com a diferença que tudo nos chega como uma cópia mal feita.
Tomemos rapidamente como exemplo o mundo gospel da metade do século XX até hoje. Importamos o neopentecostalismo com o mesmo formato de pregações e as mesmas ênfases na administração, na entonação da voz, no dinheiro, no sucesso. A imitação foi tão bem sucedida que não parou aí. A música gospel, sempre no lugar comum, recheado de bandas e artistas como Diante do Trono, André Valadão, David Quilan, Talles, Fernandinho, Aline Barros, parece ser repetições ou até mesmo plágio de bandas e artistas como Hillsong United, Planetshakers, Lifehouse, U2, Toby Mac, Jeremery Camp, Brooke Fraser, etc. Não questiono o talento desses músicos, mas a coisa é tão mal feita, que introduções musicais, riffs, solos, efeitos, performace, tudo isso chega aqui com adaptações e simplesmente estacionam nesse lugar comum. Não há uma busca por uma identidade ou originalidade. É apenas a imitação pela imitação.
A imitação deve ser cultivada como instrumento pedagógico para a aquisição de uma habilidade em que se possa encontrar a própria identidade do indivíduo. Mas em terras tupiniquins, a imitação se transformou num recurso para se atingir apenas o brilho social — é o mimetismo em sua função mais vulgar, que decorre do simples fato de seus meios serem, ao mesmo tempo, o seu fim.
Há de se abandonar esse culto à imagem e ao espetáculo das representações, pois como afirma Debord, o espetáculo “não deseja chegar a nada que não seja ele mesmo”. A construção de uma identidade própria a partir da imitação mimética é essencial para evitar que o sujeito não seja consumido por uma falsa consciência. Assim, essa identidade não será apenas a impressão que você quer dar, mas também uma expressão real do que você é.
Mas as pessoas, os brasileiros, eu, tu, ele, nós, vós, eles, vivem numa espécie de palco de teatro e tudo que sabem é atuar. Habitam o mundo contemplando as estrelas como se o ser humano se encontrasse abandonado às traças divinas, sem forças para escalar até o céu na busca de algumas respostas. Como o mendigo do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, estirado nos degraus da igreja fitando o céu como se quisesse dizer: “Afinal, não me hás de cair em cima”. E o céu: “Nem tu me hás de escalar”.
Neste mundo abandonado por nós mesmos somente os corajosos encontram respostas. Somente os bravos conseguem ultrapassar esse jogo de imitações para alcançar a serenidade do ser. A imitação deve ser superada pela força da personalidade individual, caso contrário, continuaremos a admirar toda a vida social ser determinada por esse baile de sombras que se tornou nosso país, cheia de pessoas famintas por títulos, cargos, dinheiro e sucesso; constroem um edifício emocional insustentável como finalidade da existência humana, transformando a vida numa triste narrativa sobre a terra; tudo isso entorpece a alma e nubla nossas percepções sobre a bondade e a verdade.
Penso que a vida humana não precisa ser um teatrinho, que pode ser integralmente real, que um homem pode passar do autoengano das imitações para uma existência verdadeira. Pois é assim que o mundo é vencido: pela firmeza de pessoas que não se deixam levar pelo fascínio das encenações. Fascínio este que se assemelha a um abismo de espelhos, que paralisa, e dificulta uma verdadeira comunicação entre o próximo, porque é disto que se trata também.
Falar sobre isso é complicado se considerarmos que estamos inseridos numa sociedade industrial que produz infelicidade generalizada e felicidade superficial em igual modo. O drama da sociedade atual é que o comportamento de massa dá origem a vidas de massa, gerando uma existência efêmera que produz um ser covarde. Segundo Heidegger, só poderíamos ir além das máscaras eliminando o acidental e o trivial, concentrando-nos no cerne do ser humano; ou seja, tendo consciência de nossa finitude e nos libertando da superficialidade que a vida nos apresenta. Dessa liberdade brota coisas importantíssimas. Verdadeiros milagres, como por exemplo, a gentileza com o próximo, a sinceridade com nós mesmos, ou a lucidez necessária para se discernir as sombras.
©2016 Lindiberg Mustang
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O desespero de ser livre

domingo, 25 de maio de 2014 Postado por Lindiberg Mustang
Deixe-me começar abrindo o jogo, meu caro: é muito comum sermos mal compreendidos naquilo que dizemos; esse é um embaraço que todo santo que ousa expor o que acredita terá de tolerar. Em se tratando do que eu escrevo, tento encarar com naturalidade aqueles que retrucam: “você não é claro no que diz”, “tem que explicar melhor aonde quer chegar” ou “até entendo o que você escreve, mas me mostre-me uma saída”. Não acredito que eu seja tão prolixo assim, mas esperar o que de um país em que as pessoas se adequam a cada dia a ler apenas frases de efeito no facebook.
A verdade é que não sou o cara do óbvio, das respostas prontas, dos sistemas bem elaborados — deixo essa proeza para a literatura de autoajuda, que já engole, a um bom tempo, milhares de cérebros preguiçosos Brasil a fora. Meu interesse, caro leitor, é colocar uma pulga atrás da sua orelha. Quero ser um incômodo para uma geração acomodada, e é por isso que resolvi estar diante do mundo como um irônico. Não tenho medo de ser incompreendido, ou receio de cair em contradição; ora, os grandes paradoxos são as grandes verdades. Nada disso é por acaso.
As pessoas não gostam de refletir sobre o que verdadeiramente importa. Quem para, pensa e quem pensa sofre. Refletir é um incômodo para as massas, e um pesadelo para aqueles que abraçaram a multidão. É sempre uma zona de conforto está em um lugar em que os outros pensem por nós, em que os outros ditem as regras. No mundo em que vivemos não faltam ambientes desse tipo: são as escolas com um sistema de ensino defasado e educadores que ainda apostam numa pedagogia que gera apenas imbecilóides em série; os políticos que insistem em nos manter alheios em relação à politica e o Estado babá que intervém nas dimensões mais íntimas de nossas individualidades; são as igrejas que fixam suas leis e persegue quem ousa cogitar sobre elas; Ou até mesmo a mídia e a publicidade que dita o que você deve comprar, vestir, comer, ouvir, etc.
É aconchegante viver assim, porque no final das contas sempre vai existir algo ou alguém para quem nós podemos transferir a culpa dos nossos medos, fracassos e perda. A lista conta com o Diabo, Deus, o sistema, o capitalismo, menos nós mesmos.
A liberdade nos assusta porque implicaria em sermos responsáveis pelos nossos atos, e poucos são os que têm cacife para isso. Levando isso em conta, não me assusta o fato de pesquisas mostrarem que até em 2004 o número médio de sessões psicanalíticas caiu pela metade. Uma sugestão clara de que os pacientes têm cada vez menos tempo – ou dinheiro – para os longos processos da psicanálise, em que o analisado é incentivado a descobrir sozinho suas fontes de angústia e as respectivas saídas. Freud deve estar se revirando no túmulo nesse momento.
Séculos atrás Kierkegaard já nos advertia do desespero da liberdade e da falta de volição das pessoas em se decidir por si mesmas. Pessoas assim são levadas a não se distinguir das outras, da massa e, por conseguinte, um desolador nivelamento toma o lugar. Esse nivelamento coletivo dilui a consciência individual fazendo o sujeito se confundir com a multidão. E para Kierkegaard, “a multidão é a falsidade”.
Paulo, o apóstolo, que caminhava sempre na liberdade seguindo os passos do seu mestre Nazareno, advertia que foi para a liberdade que Cristo nos libertou, não se submetam mais a um jugo de escravidão (Gl 5.1). O conselho de Paulo revela muito da inclinação humana de erguer ídolos pra si. A maioria das pessoas é como pássaros em gaiolas, que ao fugir por uma fresta, logo se depara que terá que ir atrás de seu próprio alimento para sobreviver; invés de comemorar a liberdade resolve voltar para a gaiola onde não precisará fazer esforço para encontrar comida.
É pertinente dizer que nossa sociedade é livre, mas, livre da liberdade, claro. Dizer que nossa sociedade é livre é a maior mentira de todas. São poucos os iluminados que mergulham na angustia da liberdade. Na maioria das vezes é preferível ser escravo de alguma trivialidade como o cigarro, o álcool, o pastor, o padre, o facebook, a ciência, Nietzsche, a Bíblia, do trabalho ou — por incrível que pareça — até mesmo do que eu digo.

©2012 Lindiberg Mustang

O abandono do diálogo e a violência da palavra

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013 Postado por Lindiberg Mustang

Grosso modo, não existe basicamente nenhum tipo de crime hoje, que não tenha acontecido a milênios de anos atrás. Os refinamentos de crueldade adotados hoje são basicamente os mesmo dos nossos antepassados. Não vivemos em um mundo mais violento que antigamente – ou vice-versa; a sutil diferença é que hoje o terror é divulgado com maior competência: o nome do assassino que entra numa escola e faz dezenas de vítimas é mais publicado em jornais e revistas do que o nome do agente que o deteve, ou o das próprias vítimas. Apesar das penitenciárias estarem cada vez mais lotadas, isso de forma alguma é sinônimo de menos violência, sendo a sensação de impunidade – uma das piores que existe – algo tão comum quanto acessar o Facebook.

Se existe um motivo que me deixa convencido de por que nosso mundo seja tão violento, é que, de maneira geral, a violência é delicadamente prazerosa. Quando pensamos a violência como um potencial em direção ao outro, a brincadeira fica bem mais divertida. A história da humanidade é fundamentalmente colorida por guerras e os livros que às narram, quando abertos, “minam sangue”. O prazer na violência está teimosamente embutido em nós, e o Coliseu, que ainda está bem firme, não me deixa mentir. Um dos maiores símbolos do Império Romano, o Coliseu teve sua inauguração com “os jogos de cem dias”, sendo batizado com sangue através de combates de gladiadores, lutas de animais, execuções, batalhas navais, e outros divertimentos não menos sangrentos. As pessoas se detinham durante todo o dia para ver e aplaudir espetáculos no Coliseu com níveis de crueldade altíssimos (as torcidas organizadas dos clubes de futebol, se esforçam bastante para alcançar esses níveis). Hoje, apreciamos isso não mais no Coliseu, mas sentados confortavelmente em nossas poltronas. A violência sempre foi fonte de entretenimento, e uma tecelagem lucrativa bastante explorada – não é por acaso que os games, os filmes e as animações mais violentas, são os de maiores sucessos; um reflexo da obsessão americana de buscar na violência possibilidades redentoras.

Samuel P. Huntington, antigo assessor do Pentágono, refletindo sobre a questão, diz: “A lei e a ordem são os primeiros pré-requisitos da civilização; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilização parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbárie, gerando a imagem de um fenômeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade”. Ou seja, parece não haver redenção para os homens. Mas lembre-se, caro leitor, o que está ruim nós damos um jeito de ficar pior. Se não basta para o homem recorrer à violência material para conseguir seus fins, descobrimos outro tipo de violência bem mais eficiente, que vou chamar aqui de violência da palavra: a sagacidade, o discurso teológico e político, a diplomacia, a exploração, etc. No fundo é tudo a mesma coisa. A violência da palavra é algo que está sendo internalizado precocemente em nós.

A cada dia, e cada vez mais cedo, somos incentivados a abandonar formalmente a crença na verdade como diálogo para se apropriar de discussões pedantes onde o conhecimento real é confundido com opiniões cabalmente vazias. A violência da palavra sempre existiu na história da literatura, dando vazão para o aprendizado, o exercício intelectual e o enrijecer do censo crítico. Mas hoje, a internet patrocina o pior tipo de violência da palavra – ou talvez o pior tipo de violência, levando em conta que o alvo não é a carne que sangra, mas a alma. Na internet o diálogo é ignorado; a regra é discutir, arrazoar, contender. O bom censo é jogado fora para dar lugar à contenda, à correção, à censura, zombaria, e o rancor pré-estabelecido vai sendo semeado com muita competência. O maior exemplo disso é guerra entre conservadores e marxistas, direita e esquerda, católicos e protestantes. Não existe meio termo pra quem coloca seu ponto de vista sob uma ótica ideológica – isso no Brasil já é um pressuposto obrigatório.

Os ambientes mais propícios pra isso são os blogs, Facebook e twitter. É nesse solo fértil da internet que os embates são mais violentos.  O ódio implantado é surreal, dando lugar a uma universalização arbitraria de desencadeamentos hostis. O MMA, um esporte cada vez mais popular, se torna um jardim de infância comparado com os critérios agressivos endossados na rede. Eis o rasteiro motivo pelo qual retirei a caixa de comentários desse blog tão “espetacular”. Não é que eu não queira um diálogo ou uma aproximação com meus distraídos leitores, mas simplesmente tento evitar que este espaço se torne um reduto para pessoas mais cafajestes que eu – ou talvez eu só não queira ser sucumbido pela vaidade gerada pelos galanteios.

Em meu mundo – ou talvez o que eu tento criar –, a gentileza e o cavalheirismo é a atitude escancarada e mais ambiciosa que define a revolução. Diferente do Facebook, esse mundo não é isento do toque, do beijo, da disponibilidade do abraço; onde o partilhar do pão não é apenas uma figura de linguagem, e o reclinar sobre o peito do amigo acontece nos âmbitos mais elegantes da vida. O Facebook, diferente da vida real, já começa a aparecer seus primeiros traços de decomposição, um reflexo do que aconteceu há milênios de anos na vida real. Não sei o que virá depois, mas nada permanece quando a violência começa a ser um modelo oficial de pesos e medidas. Eu acredito – assim como São Francisco de Assis – que uma aceitável salvação para o mundo seja encarnar o Evangelho da forma mais generosa possível; onde a contemplação de flores e pássaros e a repartição de riqueza seja algo tão natural quanto abrir uma conta de e-mail; essa é a marca irresistível que faz qualquer homem ser amado por alguns e insuportável para outros.

©2013 Lindiberg Mustang

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Deus e a face da violência

segunda-feira, 25 de novembro de 2013 Postado por Lindiberg Mustang


É encantador falar de Deus sem fazer uso do discurso manipulador político e teológico, que geralmente é embutido nas configurações da religião. E é justamente por isso que estou convencido de que falar de Deus “sem falar de Deus” é a maneira mais eficaz de comunicar o Evangelho. Sim, o discurso mais perfeito e organizado, quando usado o nome de Deus, vem encravado em si uma terrível agressão; isso, levando em conta que o objeto do discurso é nada mais nada menos que Deus – a maior ferramenta de manipulação em massa de todos os tempos. Ora, Deus é o fator que dá rosto à violência.

A via da política também é um terrível mecanismo de manipulação, principalmente quando um grupo faz uso de um discurso religioso, pois, imprime em sua ideologia uma moralidade inquestionável, absoluta e inflexível. Isso porque a política mesclada com a religião, sempre pende para uma categoria messiânica, com uma tentativa determinada de implantar a sua utopia no mundo. Mas isso não está ligado, propriamente dito, a um grupo; qualquer pessoa pode se servir, a qualquer momento, dessas estruturas de manipulação e controle, que se mostram eficazes desde tempos pretéritos.

Não vou cometer o erro de achar que muitos desses discursos não possam ser bem-intencionados; de fato os são, mas até esses discursos também vêm carregados de uma agressão que distorce a realidade com a sombra da alienação, interrompendo o bom senso emanado do Evangelho.

O maior perigo do discurso teológico ou político, no entanto, é justamente isso: o engessamento inquestionável do dogma. Todo e qualquer discurso que traga em si esses elementos, por mais bem-intencionados que seja, levará a uma obsessão conservadora para a perfeita compreensão de Deus e da realidade. E foi justamente esse impulso para ideias fixas que acendeu as fogueiras da Inquisição, que conduziu as sangrentas guerras nas Cruzadas e que levou uma classe religiosa a matar o Filho de Deus. Essa obsessão para ser detentor do monopólio da verdadeira interpretação da Bíblia, é que dividiu cristãos entre protestantes e católicos, regendo massacres inimagináveis entre os dois grupos ainda hoje[1]. As divisões se potencializaram, aumentando a cada dia o numero de facções religiosas que se dizem donas da verdade absoluta. É exatamente essa a tentação oculta nas boas intenções. O camarada mais generoso é tentado a sequestrar as ênfases de Jesus, de Paulo e Agostinho, para justificar seus abusos; tudo em nome das boas intenções, sempre representada por uma fome – talvez inconsciente – de poder. O poder, por sua vez, sempre será condicionado pela instituição, pela placa, pela doutrina, o dogma ou a ideologia.

Esse modo fundamentalista e arrogante de achar que só existe uma maneira de entender e interpretar a Bíblia foi bem incorporado pelo conservadorismo. O conservadorismo, talvez seja a maior representação de uma classe que faz uso de um discurso teológico, porém violento, para disseminar a sua ideologia, faz com que a Bíblia se torne a principal ferramenta de dominação, de divisão e exclusão. Usam a Bíblia para controlar Deus, e pintá-lo como um ser tremendamente obcecado pela justiça e totalmente desinteressado pelo amor. Ao mesmo tempo, usam a igreja, em um sentido muito profundo, para catalogar os medos que a sociedade deve ter. Esse é o início para que o discurso religioso conservador venha a se tornar a maior fonte de desumanização já vista: o conservador é o cara que classifica como herege todo aquele que não comunga de sua crença, precisando ser refutado como conceito e eliminado como prática.

O conservador faz isso com extrema dificuldade, pois ele tem que provar que a mensagem de Deus delicadamente moldada pela instituição (pela sua instituição), é uma verdade inalterada e irretocável, ontem, hoje e sempre. É dessa forma que a instituição se manteve preservada até os dias de hoje. Deus, que sempre foi o maior agente de libertação, na boca desse povo se torna o fator da escravidão, da alienação, da dissensão e da exclusão.

Como eu disse acima, a maneira mais eficaz de falar sobre Deus é se abstendo desses mecanismos de controle que está inserido na própria essência bem-intencionada do fator Deus. Mas como falar de Deus sem falar de Deus? Considerando que, desde os primórdios a religião sempre foi uma poderosa arma, servindo superficialmente para exteriorizar certo tipo de espiritualidade, parece não haver outra maneira de falar sobre Deus sem usar uma homília teológica repousada na sombra confortante da instituição. Mas não é bem assim. Jesus, que nunca foi bem aceito nos recintos religiosos, encontrou um jeito mais sofisticado – talvez o único – e singelo para falar de Deus: amando. Começando por chamar Deus de Pai, o Rabi de Nazaré, não saia ventilando teologia, fingindo que Deus pode ser explicado através de conceitos que exclui por definição a tolerância. Pra Jesus, Deus é um Pai, que também tem características de Mãe.

Ao contrário dos teólogos e filósofos, Jesus fugia dos discursos sistemáticos, deixando a entender que a instituição fracassou no seu papel ambicioso de nos apresentar Deus. Mais ambicioso e com mais precaução, Jesus nos apresenta Deus sem deixar uma doutrina. Para o Filho do Homem, uma singela parábola valia mais que um tratado teológico; suas próprias gentilezas definiam Deus mais do que qualquer conceito e explicações. Jesus não era tão ingênuo ao ponto de sair dando explicações sobre a origem do mal, ou a natureza divina; tudo isso ficava descartável, pois seu interesse era algo mais existencial, era o corpo-a-corpo do dia-a-dia. Usar as ferramentas da instituição para explicar Deus de forma conceitual e sistemática, é o mesmo que cobri-lo com o véu da violência; e isso já era bem comum naquele momento. Para Jesus, a natureza de Deus era revelada em suas pequenas comunhões, em sua preocupação com os excluídos, com os perdedores; em sua inserção no mundo para o qual veio redimir. Jesus falava de Deus amando, pois não há outra forma de mostrar Deus ao mundo. 

©2013 Lindiberg Mustang

[1] Sem contar grupos islâmicos e judaicos também usam a bandeira da religião para justificar seus massacres. 

Os limites da realidade

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013 Postado por Lindiberg Mustang


Os sonhos são formidáveis – independentes de quais as definições que você dê a esses fenômenos e suas representações. Para Carl Jung, os sonhos e todas as suas caricaturas são manifestações do inconsciente desejando produzir relações,  ou transmitir alguma mensagem. Ou seja, dizem os psicanalistas que os sonhos são apenas o desejos veementes do inconsciente querendo fazer contato com consciente, não passando de projeções imperfeitas da realidade, porque o consciente é o lúcido, o real, o verdadeiro, o que existe de fato.



Mas e se fosse exatamente o contrário? E se todos os mitos elaborados durante a história para dar significado ao mundo, se todas as ilusões e fantasias, se todas as imaginações e devaneios gerados pelo homem fossem precisamente a verdadeira realidade? Sim, e se for o consciente não uma impressão da realidade exterior, ou seja, e se formos nós, e consequentemente o mundo, um verdadeiro asilo de loucos? E se “não desista dos seus sonhos”, não fosse uma mera frase de autoajuda, mas sim uma fantástica expressão de quem anseia pelo lar? Ora, e se para acordarmos de verdade devêssemos fechar os olhos? E se sonhar é ter um encontro com uma revelação vertiginosa da realidade? Quero dizer, e se os sonhos são para onde devemos ir? Um mundo onde estamos seguros e felizes, rodeados por aqueles a quem amamos.



Como testar os limites da realidade e alcançar a extraordinária beleza do infinito?



©2013 Lindiberg Mustang


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