Google nosso mestre
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
A
abundância de informação é pior do que sua escassez. Platão já dizia que há
uma diferença abissal entre informação (doxa) e conhecimento (episteme). Isso foi discernido a 400 a.C. com uma precisão tão grande que chega a assustar os conceitos mais sofisticados da linguagem de hoje. Em tempos pretéritos, onde a informação não
era tão acessível, o conhecimento era mais sólido; hoje, com a “democratização”
da comunicação, vemos também a futilização do conhecimento.
Sim,
quando queremos uma resposta sobre determinado assunto, é comum recorrermos ao
Google, nosso “mestre”. O problema é que o Google – ou qualquer outro site de
busca – não nos dá somente uma resposta, mas milhões delas. Levando em conta
tamanha generalização, não fica difícil entender o porquê de nossa sociedade
produzir tamanha mediocridade intelectual; dada às bobagens das redes sociais. Mas
isso é irrelevante. O problema é como chegar às informações que merecem
realmente atenção, e distingui-las de todo o resto.
Com
as múltiplas respostas encontradas por aí, observamos o mundo entrar num
processo de relativização, e nesse processo os interesses das pessoas oscila
com grande facilidade. Ora, hoje mais do que nunca vemos a verdade ser
fracionada categoricamente. E nessa brincadeira tudo vai se tornado relativo,
pois, todo mundo tem alguma coisa pra falar, pra escrever, pra corrigir, pra
explicar, pra atualizar, pra satirizar, para censurar, etc.; e isso tudo em um
estado de extremo narcisismo.
Todo
mundo agora pode se achar detentor de algum tipo de conhecimento. O problema é
que esse conhecimento tem um quilometro de distância, mas apenas um centímetro
de profundidade. E esse suposto conhecimento é totalmente leviano, gerando mais
presunção, orgulho e arrogância (e acredite, posso dizê-lo de primeira mão) do
que algum tipo de reflexão sobre si mesmo. Tudo entra numa esfera muito
superficial, e a cada dia percebemos que estamos entrando em uma era sem total
referencia para aquilo que realmente importa; e a internet, mais do que nunca, vem dando a sua
contribuição para que isso ocorra com mais perfeição.
Mas a superficialidade
e o narcisismo não se ascenderam simplesmente com a chegada da internet – essas
coisas sempre fizeram parte da história da literatura e da filosofia. O verdadeiro mérito da
internet, segundo Paulo Brabo, está em ter universalizado a agressividade arbitrária
e o rancor pré-estabelecido. Isso porque, na rede, discordar é um ato
solitariamente insuficiente. Se você quiser realmente ser levado a sério, terá
que agregar critérios mais agressivos. Você terá que pisotear e ridicularizar.
Não basta contra-argumentar, é preciso destilar veneno. E desse modo, assistimos
pessoas escrevendo como se estivessem comprando alface na feira.
Enfim, essa fartura de informação que a internet disponibiliza, nos distancia estupidamente do passado em alta
velocidade. Nada é mais estável. É como a sociedade líquida capturada perceptivamente
por Bauman. O conhecimento prévio que você constrói uma casa, agora parece mais
com um trem que passa sobre os trilhos e não deixa pegada sobre a terra.
©2012 Lindiberg de
Oliveira
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