As perguntas movem o mundo

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010 Postado por Lindiberg de Oliveira
Uma coisa eu sei, tenho mais perguntas do que respostas, e minhas dúvidas se encontram – a maioria delas – num campo existencial exaustivamente exercitada durante a vida. As perguntas me deixam deslumbrado e também não consigo disfarçar meu fascínio por pessoas que sabem indagar. Por isso confesso que sou um grande admirador de Kierkegaard, Nietzsche, Einstein, Ellul, e outros, pois foram homens que tiveram ousadia de fazer perguntas além do seu tempo. Foram homens que ousaram desafiar a religião, ou pra ser mais direto, os religiosos. Eram homens sinceros nos seus questionamentos, e esse era o motor que os moviam, e o combustível era a intensa sede por respostas.

Aprendi com esses indivíduos – e alguns outros – a ser intrépido nos meus questionamentos, com cordialidade é claro. Mas isso nem sempre foi assim. Lembro-me que era escândalo pra mim a afirmação socrática: “sei que nada sei”. Ora, eu queria saber que sabia, e queria que todos ao meu redor soubessem disso. Queria ser um menino prodígio, um pequeno Lutero da vida, um protótipo de João Wesley.

Quanta tolice!

Estava andando por caminhos tortuosos, mas, no entanto, tive a honra de tropeçar – mesmo não merecendo – em figuras que não tinham medo de dizer “não sei”. Aquilo pra mim foi libertador. Fez-me ver o tamanho da minha vaidade.

Aprender a perguntar é uma arte, reconhecer que não sabe é um dom.

Percebo a necessidade em mim de ver as coisas como engrenagens, que vão se encaixando numa determinada ordem. E isso me leva ao espanto. A vida nem sempre tem sentido amigo. A existência não se desencadeia como engrenagens, e isso é fascinante: nem tudo que passa pelo crivo da razão será de fato lógico. Isso não muda o fato de que preciso e sinto uma extrema necessidade de entender. E quanto mais busco entender mais vejo o quanto sou pequeno diante das complexidades que me rodeiam. Quando comecei a aplicar esses princípios ao estudar a Bíblia quase enlouqueci. Ora, a Bíblia não dá a mínima para explicar algum tipo de questão teológica: de como o mal passou a existir, se os sete dias da criação são literais ou não, se nós somos ou não predestinados, etc.

Não há como medir a vastidão exterior que me rodeia; cada poeira cósmica, cada estrela, cada buraco negro, cada borboleta, cada formiga, cada átomo. Vejo também que não tem como aferir o mundo que há dentro de nós; cada onda eletromagnética que pulsa no meu cérebro fazendo com que meu paladar sinta a acidez de uma laranja, a doçura de um mel, fazendo com que o cheiro da grama que acabou de ser cortada, penetre nas minhas narinas me dando aquela sensação de nostalgia, por causa de lembranças de quando eu tinha nove anos de idade. Diante disso, vejo que não vou conseguir entender tudo, mas, poderei compreender boa parte. As ”coisas ocultas pertencem a Deus, e as reveladas, pertencem aos homens e seus filhos”, diz o profeta.

Sendo assim, percebo que as perguntas são perigosas e “não são as respostas, mas as perguntas que movem o mundo” – incorporando uma reflexão da teoria do conhecimento e de uma perspectiva dialética. Com isso, a questão publicitária tenta dizer que o motor (o dínamo aristotélico) da resposta são as perguntas; ou seja, as perguntas, evidentemente, vem antes das respostas, pois são as perguntas que produzem as respostas. No campo cientifico quanto maior a dúvida maior a descoberta. A dúvida tem que existir, não como um ato de incredulidade, mas como uma ferramenta de inquérito. Por isso, o apóstolo Paulo nos orienta: examinai todas as coisas.

©2010 Lindiberg de Oliveira

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