Eu não minto (Mentira)! Mas nem toda mentira é pecado

quinta-feira, 2 de junho de 2011 Postado por Lindiberg de Oliveira

Dizem que a mentira tem pernas curtas. Esse é um ditado que nem sempre é verdadeiro: às vezes ela tem pernas longas, e em algumas ocasiões tem muitas pernas. Isso levou Machado de Assis afirmar que a mentira é muitas vezes tão involuntária quanto à respiração.
A questão é que todos nós mentimos, sejamos homens ou mulheres, crianças ou adultos, cristãos ou ateus. É fato que a mentira é inerente ao ser humano e, acredite, nem toda mentira é prejudicial. Mas antes de entrarmos nesse assunto é necessário que uma pergunta seja respondida: quando começamos a mentir? Muitos se lançaram em pesquisas dentro da filosofia, antropologia e psicologia, mas as respostas que mais se mostram concretas de fato são de cunho biológico, onde diz que tudo começa sob uma base evolutiva.
Sim, a mentira é intrínseca ao homem, mas suas bases não foram elaboradas pelo mesmo. Tudo começa com os seres menos destituídos de consciência. Por exemplo, algumas plantas carnívoras são impecavelmente caiadas de flores onde atraem vários insetos que viram banquetes. No reino aquático vários animais se camuflam diligentemente para não virarem presas. E no reino animal os lagartos são os mais hábeis em dissimulações. Eles adaptam as cores de sua pele de acordo com a vegetação em que vivem; assim capturam suas presas ou se livram de predadores com mais facilidade se deixando passar por folhas, galhos e até mesmo rochas.
A mentira está ligada à intenção. Uma coisa é cometer erros, outra é ter a intenção de enganar alguém. Sendo assim a mentira nem sempre deve ser compreendida como o contrário da verdade, pois, está ligada ética e moralmente à intenção de enganar, provocando assim prejuízo à outra pessoa.
Durante séculos podemos observar que a mentira está em nossa mais intima essência, e que a empregamos como habilidade de sobrevivência. Sobrevivência essa que começa no reino natural e termina no ambiente social. David Livingstone Smith, diz o seguinte:
Pense em alguns exemplos da vida cotidiana: as pessoas mentem em seus currículos para conseguir emprego, para evitar pagar impostos, ter casos extraconjugais. Lembre-se dos políticos que mentem para permanecer no poder. Infelizmente, os grandes vencedores da vida são aqueles que mentem. (...) Podemos mentir sem usar palavras, através de um sorriso falso, através do uso de cosméticos que disfarça nossa verdadeira aparência, para fingir um orgasmo. Qualquer pequeno engano intencional pode ser considerado mentira.
Nesse caso, Smith sugere que mentimos inteiramente para obter lucro. Alguns acreditam que status, sexo, dinheiro e poder são os principais fins dessa empreitada. Fins que não se aplicam nos casos das crianças, pois seriam inteiramente irrelevantes. Crianças começam a mentir, pois vê nessa astúcia um sistema de defesa para isenta-las de culpa, castigos ou repreensões. Sendo assim, vários psicanalistas observam essa atitude de forma positiva o qual a criança está num processo de evolução intelectual.
A questão é que a mentira foi banalizada, todos mentem de algum modo, e todos negam que mentem mesmo mentindo. Existe um conceito chamado “mentira branca” – termo utilizado para definir uma mentira inofensiva – onde diz que a mentira é necessária e a maioria delas não fazem mal a ninguém. Nesse contexto, a “mentira branca” se sobrepõe na integração social, por exemplo: quando dizemos para um amigo que gostamos de usa roupa nova, sendo que na verdade não apreciamos. Ou quando fingimos um sorriso naqueles momentos em que gostaríamos de ser mal educados. Esses são exemplos de mentiras que causam integralidade no âmbito social, que não agride ou machuca nosso próximo.
Muitos afirmam que existem dois tipos de mentiras: a fisiológica – no caso das “mentiras brancas” como elogios e desculpas – e a patológica – onde se encaixam pessoas com personalidades doentias e problemáticas. As que se destacam mais no segundo caso são pessoas narcisistas, personalidades carentes de elogios com autoestima baixíssima, e por isso fazem uso demasiadamente da mentira para se autopromoverem. Não é preciso ir muito longe para perceber que a mentira ultrapassa facilmente essa divisória entre a integração social e a hipocrisia farisaica – ou seja, mentimos porque de fato somos canalhas mesmo. Para falar a verdade não sei onde começa uma e termina a outra, mas acontece que as duas definições são verdadeiras.

©2011 Lindiberg de Oliveira
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