Reformadores a igreja sempre teve
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
O que dirão os inimigos de Cristo quando virem o Cristo dos evangelhos
convocando os homens a desprezarem as riquezas, a renunciarem à busca dos
prazeres e a abandonarem o orgulho, e observarem que exatamente o oposto
acontece entre os líderes dos que se professam cristãos, que vivem como que de
modo a superarem os pagãos em seu paganismo — em sua paixão pelo acúmulo de
riquezas, seu amor aos prazeres, sua vida suntuosa, sua selvageria na guerra e
praticamente todos os outros vícios? Quantos não rirão quando virem que o Cristo
dos evangelhos não queria ver seus seguidores assinalados pela sua vestimenta,
por rituais ou por regras alimentares, mas em que fossem unidos em seu amor uns
pelos outros — quando olharem ao redor e nos virem longe de estarmos unidos, e
que de fato nenhuma outra estirpe de homens viveu em discórdia tão vergonhosa e
mortal? Príncipe guerreia contra príncipe, estado luta contra estado, não há
acordo entre uma escola e outra ou entre uma religião (como agora se diz) e
outra; rixas, facções e litígios abundam entre nós. Esta é a verdadeira
blasfêmia, e seus autores são os que encontram para ela uma justa causa.
Erasmo de Roterdã
Erasmo foi contemporâneo de Martinho Lutero, amigo e
contraditoriamente seu opositor teológico em algumas demandas. Dotado de um
singular brilhantismo teológico, Erasmo foi um reformador que não ousou sair da
Igreja Católica, implorando até o último momento para que Lutero fizesse o
mesmo – conselho o qual acabou não dando ouvido – graças a Deus. Enganam-se os
que pensam que só os protestantes foram reformadores. Reformadores a igreja
sempre teve, e cá entre nós, os protestantes não reformaram tanta coisa assim.
Erasmo escreveu o texto acima a mais de cinco
séculos, mas é tão atual que parece que foi escrito ontem.
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Lindiberg de Oliveira
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